André Gilberto Boelter Ribeiro


Textos, Artigos Públicados, Reportagens citadas, Fotos, entre outros assuntos.

sábado, 20 de junho de 2009

A IMAGEM DIVINA DE WILLIAM BLAKE E A IMAGEM EM OCTAVIO PAZ

William Blake viveu toda a sua vida à beira da pobreza e morreu sem ter o devido reconhecimento. Blake viveu num período significativo da história, marcado pelo Iluminismo e pela Revolução Industrial na Inglaterra.

A literatura estava no auge do que se pode chamar de clássico "augustano"", uma espécie de paraíso para os conformados às convenções sociais, mas não para Blake que, nesse sentido era romântico, "enxergava o que muitos se negavam a ver: a pobreza, a injustiça social, a negatividade do poder da Igreja e do estado.

Não é possível dissociar o poeta e o pintor, já que sua obra é uma composição única, onde suas atividades artísticas somadas à intelectualidade contestadora, compõem um universo pessoal. Talvez por esse motivo, a grandeza de William Blake não foi compreendida por seus contemporâneos e ainda hoje, não é vista com o devido merecimento.

“Homem de personalidade geniosa, irascível, amável, sempre tido por seus contemporâneos e pósteros, como um louco – falsa acusação que povoou sua reputação pelo tempo afora. Mas não só isso. Alguns de seus aforismos tornaram-se popularíssimos nos mais longínquos recantos da terra.” (GONÇALVES, 2007, p. 01).

No poema de Willian Blake temos a imagem como divina, ou seja, a representação de Deus o criador como um ente sobrenatural que possui muitas características positivas. Nesse sentido faremos uma relação com o texto Imagem de Octavio Paz, o qual trabalha a imagem como representações ou construções de imaginário, aproximando ou conjugando realidades opostas.

Para Paz a imagem é contraditória. A contradição serve apenas para analisar o caráter irrepreensível absurdo da realidade ou da linguagem. A realidade é construída tal como o significado das palavras e nisso elas se contradizem. Sempre se repara a existência de dois pontos que coexistem e se integram: a mística e a poesia. E a ciência vem para desmantelar a poesia de seu lugar.

Verificamos então esses dois pontos na poesia de Blake, onde as características divinas são ressaltadas e não deixam de serem místicas quando investidas de poesia.

Ao Perdão, Piedade, Paz e Amor,
Todos clamam na aflição:
E para estas virtudes prazeirosas
Afirmam sua gratidão.

A história das civilizações antigas se baseiam na dualidade existencial, onde sendo uma coisa não o é a outra, tendo um caráter opositor. Mas apesar dessa oposição, existem um momento em que elas se fundem, não podendo se distinguidas um das outras. Nesse sentido na poesia verificamos a fusão de dois momentos ou ênfases divinas: a capacidade de Deus ser pai e filho:

É Deus nosso pai querido:
E Perdão, Piedade, Paz e Amor,
É o homem, seu filho, a quem cuida.

Paz destaca que o conhecimento da poesia só se dará com a interação dela com o leitor. É através da poesia que o homem conhece e absorve os valores do mundo. A identidade última entre o homem e o mundo, a consciência e o ser, o ser e a existência, é a crença mais antiga do homem e a raiz da ciência e da religião, magia e poesia. Isso acontecerá quando o leitor se apoderar das palavras de Blake quando no momento de tristeza, aflição, dificuldades.

A relação se dará quando o leitor investido de sentimentos semelhantes ao texto se apoderar dele chegando a uma forma de êxtase. Pois a poesia como linguagem é capaz de transcender o sentido das coisas e de dizer o indizível, não se pode separar seu raciocínio das imagens, jogos de palavras e outras formas poéticas. Poesia e pensamento se entretecem até formar uma só tela, uma única matéria insólita.

Quando afirmamos que a poesia possui a qualidade de dizer aquilo que as palavras comuns não são capazes de dizer, tais como de traduzir pensamentos rigorosos como o pensamento das crenças orientais. E que as palavras transformadas em imagens podem dizer o indizível. Afirmamos que Blake em suas imagens poéticas se consegue traduzir aquilo que ele tem de mais belo em seu interior. A própria poesia dele já é um grande incentivo à imaginação.

As imagens na poesia tem diversos níveis: autenticidade, experiência do mundo; a realidade objetiva, as obras; as imagens possuem caráter revelador do mundo e de nós mesmos. Blake utiliza-se de jogo de palavras para criar a imagem dos sentimentos:

Pois Perdão tem um coração humano,
Piedade, um rosto humano,
E Amor uma forma divina,
E Paz, as vestes humanas.

Paz ressalta que as palavras não conseguem exprimir a realidade no seu sentido total. A linguagem é descritiva, é limitada. A imagem reproduz o momento de percepção e força o leitor a suscitar dentro o objeto um dia percebido. Toda palavra corresponde a um significado, isto é, tem outra palavra que diga a mesma coisa. A imagem ao contrário, é aquilo, não se pode dizer com outras palavras. A imagem explica-se em si mesma. O poema é a linguagem em tensão.

Ao descrever a imagem divina, Blake tenta recriar uma “realidade” mítica, revivê-la. A imagem transmuta o homem e converte-o por sua vez em imagem, isto é, em espaços onde os contrários se fundem. A poesia é descobrir e desvendar o próprio ser, que é a imagem e semelhança de Deus, então desvendando a imagem divina, desvenda-se o homem.


REFERÊNCIAS

GONÇALVES, Leo. Willian Blake Hoje. Disponível em: http://www.revistaetcetera.com.br /19/blake_hoje/index.html. Acesso em: 26/06/2009.

PAZ, Octavio. O Arco e a Lira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982. Col. Logos. Tradução de Olga Savary (p.15-31 e 82-7).

WIKIPÉDIA. Willian Blake. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/William_Blake Acesso em: 15/06/2009.

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